Vibe Coding - a verdade da hype

Olá apaixonado por IA!

Hoje vamos fazer algo diferente. Quero conversar contigo sobre um tema que está por todo o lado nas redes sociais: o vibe coding.
À primeira vista, a promessa parece incrível: criar software sem precisar de saber programar, automatizar processos com algumas frases, lançar produtos quase tão facilmente como se estivesse a montar Legos.

Mas, como acontece muitas vezes com tendências tecnológicas rápidas, por trás do entusiasmo há mais complexidade do que parece. O objetivo desta edição é desfazer os mitos, para perceberes exatamente o que está em jogo.

Mas afinal, o que é o vibe coding?
O termo descreve uma forma nova de criar código usando ferramentas como o ChatGPT ou GitHub Copilot, que transformam descrições simples em código real. Em vez de aprofundares o teu conhecimento técnico, escolhes rapidez: dizes o que queres e deixas a IA construir por ti.

Andrej Karpathy popularizou este conceito dizendo que é "entregar-se completamente à vibe". E sim, realmente funciona — pelo menos até certo ponto.

Empresas como a Nvidia já afirmaram que todos os seus engenheiros vão usar IA ainda este ano, e a Shopify também decidiu que cada colaborador (não só os programadores) terá acesso a estas ferramentas. Ferramentas como Replit, Cursor e Amazon Q crescem rapidamente porque oferecem precisamente esta simplicidade.

Mas antes de comprares mais um curso que promete mudar a tua vida por 97€, pensa bem no que realmente estás a levar para casa.

Porque está toda a gente tão entusiasmada (e porque devias prestar atenção)?
Estamos numa fase em que já não precisas ser programador para criar software simples. Profissionais de marketing montam dashboards sozinhos, gestores de produto constroem MVPs sem esperar semanas por developers, equipas de operações criam integrações sem precisar de ajuda externa.

Neste momento ainda há uma vantagem real para quem domina estas ferramentas antes dos outros perceberem o que está a acontecer. E digo-te isto por experiência própria: eu mesmo já crio GPTs personalizados para alguns clientes, e a verdade é que não o faço por ter grandes competências técnicas. Faço-o porque aprendi a arte do "prompt engineering" — dar as instruções certas à IA para obter bons resultados. As minhas capacidades de programação? Bastante limitadas, para não dizer praticamente nulas. E mesmo assim, funciona.

No entanto, há um lado menos bonito que raramente é mencionado pelos influencers tecnológicos.

Porque é que o vibe coding não é o ouro que prometem?

1. A IA não pensa. Só reage.
Ferramentas como o Copilot ou ChatGPT não percebem realmente o problema. Limitam-se a seguir padrões do código com que foram treinadas. Quando algo corre mal, estas ferramentas não sabem encontrar novas abordagens ou entender melhor o contexto, como faria um humano.

2. O difícil não é escrever código. É corrigir.
A maior parte do tempo dos developers não é passada a escrever código novo — é passada a corrigir problemas. E as ferramentas de IA ainda se engasgam em erros aparentemente simples, precisamente porque não sabem como raciocinar passo a passo.
Quando ouvimos que "80% do código será escrito por IA", como disse o CEO do GitHub, esquecemo-nos que alguém ainda precisa de perceber esse código, mantê-lo, e garantir que funciona mesmo.

3. Segurança? Documentação? Manutenção? Boa sorte.
O código feito por IA muitas vezes é confuso, difícil de perceber e raramente vem com documentação clara. Isto pode tornar-se um pesadelo quando precisas de garantir segurança, escalabilidade e confiança no software. Pergunta a qualquer developer e vê o quão importante é a documentação de projetos.

4. Cuidado com a ilusão de competência.
É pior pensar que sabes programar só porque tiveste ajuda da IA, do que admitir honestamente que não sabes. O vibe coding pode criar um falso sentimento de controlo, especialmente para quem ainda tem pouca literacia técnica.

5. As IAs simplesmente não têm experiência suficiente (ainda).
Muitas destas ferramentas não foram treinadas com exemplos reais da forma como programadores humanos resolvem problemas — ou seja, com testes, erros, novas tentativas e soluções criativas. E isso limita drasticamente a sua utilidade em contextos mais exigentes.

Então, vale ou não a pena?
Sim. Mas não como atalho. Usa-o como mais uma ferramenta, não como uma solução milagrosa.
O vibe coding pode democratizar o acesso à criação de software. Mas para conseguires tirar verdadeiro proveito disso, precisas de mais do que frases bonitas para dar ordens à IA. Precisas de pensamento crítico, capacidade de supervisão humana, e conhecimentos mínimos para saber o que está realmente a funcionar e o que não passa de uma solução temporária.

Conclusão: Não caias no hype
Quem vai vencer nos próximos anos não é quem espera ficar rico só porque pede coisas ao computador. Serão as pessoas que aprenderam a usar estas ferramentas com inteligência, criatividade e um saudável sentido crítico.

Porque no final, vibe coding não é magia. É apenas mais uma ferramenta. Poderosa, sim. Mas que exige responsabilidade e consciência para ser bem utilizada.

Ferramentas que podes experimentar já hoje para entrar no mundo do Vibe Coding

Se depois do que leste estás curioso sobre como podes experimentar o vibe coding na prática, quero dar-te uma ajuda extra. Vou apresentar-te algumas ferramentas que já estão a transformar ideias simples em aplicações reais, mesmo para quem, tal como eu, não tem conhecimentos técnicos profundos de programação.

Ferramentas visuais para criar aplicações completas (Full Stack)

Estas ferramentas são ideais para quem quer construir aplicações de forma visual, usando a IA para gerar código completo com base em descrições ou interações simples:

1. Tempo Labs

Tempo Labs é uma ferramenta híbrida: boa para quem não sabe programar, mas especialmente útil para quem já tem alguns conhecimentos básicos. Ao criares um projeto com a Tempo Labs podes escolher logo no início tecnologias para autenticação e backend, e recebes automaticamente um documento com requisitos do produto (PRD) e diagramas de fluxo dos utilizadores. A ferramenta permite ainda que continues a editar a app, seja através da interface visual, com prompts de IA, ou exportando o código gerado.

O ponto forte da Tempo Labs é a integração com ferramentas populares como Stripe (pagamentos) e Supabase ou Convex (bases de dados). Recentemente, a Tempo Labs lançou também a opção de criar aplicações a partir de repositórios já existentes no GitHub — embora, pela minha experiência, esta funcionalidade ainda precise de amadurecer um pouco mais.

2. Bolt.new (Stackblitz)

Bolt.new é outra ferramenta excelente, criada pela equipa do Stackblitz, que permite gerar aplicações completas usando IA diretamente no navegador. Um dos grandes diferenciais é que podes importar diretamente designs do Figma e convertê-los automaticamente em aplicações reais.

Outra característica interessante do Bolt é que podes abrir todo o projeto num editor semelhante ao Visual Studio Code diretamente no browser (Stackblitz). Isto permite que faças ajustes manuais sempre que precisares, mantendo uma experiência consistente mesmo que estejas a trabalhar em dispositivos diferentes. Bolt também oferece integração com Supabase, mas no momento desta escrita, ainda não disponibiliza integração nativa com ferramentas de pagamento como Stripe.

3. Lovable.dev

Provavelmente a ferramenta mais amigável para iniciantes ou utilizadores menos técnicos. A Lovable.dev permite-te criar rapidamente aplicações com uma interface visual e prompts de IA. Um ponto interessante é que podes selecionar partes específicas da interface e pedir à IA que faça alterações pontuais, tornando a edição mais intuitiva.

Tal como as anteriores, também está integrada com Supabase, oferecendo autenticação e operações básicas de base de dados. A Lovable.dev permite-te ligar um repositório GitHub diretamente à aplicação, facilitando o trabalho híbrido entre edição visual e código manual.

Menções adicionais rápidas:

• Replit: Permite-te criar, editar e publicar aplicações completas diretamente com prompts e uma interface visual integrada.

• Base44: Orientada para utilizadores mais avançados, oferece templates básicos para começar rapidamente projetos novos.

Ferramentas avançadas para edição direta de código (baseadas em VS Code)

Se tens preferência por trabalhar diretamente no código ou já tens alguma familiaridade com o ambiente VS Code, aqui estão ferramentas poderosas que podes experimentar:

1. Cursor

Uma das primeiras a surgir neste espaço, a Cursor começou com sugestões simples e chat para completar código, evoluindo para funcionalidades avançadas como agentes automáticos que fazem alterações diretamente no código. Recentemente adicionaram suporte a servidores MCP, permitindo integrações mais profundas com ferramentas externas. No entanto, atenção: pode tornar-se complexo com projetos grandes, exigindo configurações adicionais.

2. Windsurf

Muito semelhante ao Cursor, mas com uma interface ligeiramente mais intuitiva. A grande vantagem do Windsurf atualmente é a capacidade de pré-visualizar diretamente a aplicação que estás a desenvolver dentro do próprio editor, tornando mais fácil acompanhar mudanças.

3. Trae

Criado pela equipa por trás do TikTok, o Trae destaca-se pela excelente experiência do utilizador e um bom plano gratuito. A desvantagem é que ainda não suporta integrações MCP e não gere bem o contexto de projetos mais complexos.

Extensões para VS Code (para integrar no teu fluxo de trabalho atual)

Pessoalmente prefiro esta categoria, porque me permite flexibilidade máxima: posso adicionar ou remover ferramentas conforme as necessidades do momento, sem alterar significativamente o meu ambiente habitual.

1. Augment

Esta extensão indexa e analisa o teu repositório atual, permitindo-te fazer perguntas específicas ou obter sugestões de código diretamente. Tem, no entanto, um detalhe importante: na versão gratuita, usam o teu código para treinar a ferramenta, algo que pode não agradar a todos.

2. Continue

Uma extensão poderosa que combina funcionalidades conversacionais com integração MCP, permitindo que adiciones ferramentas externas (por exemplo, pesquisas da web) diretamente no ambiente do teu editor. É especialmente útil em projetos mais exigentes, permitindo-te mais controlo sobre o contexto utilizado.

3. Cline

Outra extensão robusta, semelhante a Cursor e Windsurf, mas focada especialmente em automatizar tarefas repetitivas e antecipar o código que vais precisar. O principal inconveniente é que pode consumir rapidamente muitos tokens (o que aumenta os custos de utilização).

4. Sourcegraph (Cody)

Ideal para equipas grandes e projetos complexos. Sourcegraph oferece integração robusta com múltiplos repositórios, permitindo alterações em massa, refatoração inteligente e gestão avançada de contexto. A recente extensão VS Code (Cody) permite-te ainda conversar diretamente com a ferramenta para obter insights ou sugestões concretas de código.

Menções rápidas adicionais:

• Fynix: Útil para acompanhar a evolução histórica do código ao longo do tempo.

• Pythagora: Boa opção para criar aplicações novas baseadas em Node.js, mas pouco amigável para projetos já existentes.

Ferramentas autónomas adicionais (para utilizadores mais avançados)

Se preferes ferramentas especializadas ou com uma abordagem mais autónoma, vale a pena conheceres estas opções:

1. Devin (Cognition Labs)

É uma ferramenta que atua quase como um developer autónomo. Podes dar instruções diretamente através do Slack, e a ferramenta consegue planear, implementar e testar código por si mesma. Ideal para equipas, mas pode ser menos prática se trabalhas sozinho (já que dependes do Slack).

2. Aider

Orientada para utilizadores mais avançados, esta ferramenta funciona diretamente no terminal. É excelente como "pair programmer", implementando alterações enquanto mantém contexto amplo do teu código.

3. Claude Code (Anthropic)

Recente lançamento da Anthropic, é uma ferramenta terminal-based muito poderosa, que "lê e compreende" o teu código antes de propor alterações. Apesar de extremamente útil, nota que atualmente é uma das opções mais caras devido ao consumo elevado de tokens.

Explora, experimenta e decide qual destas ferramentas melhor se encaixa no teu estilo e necessidades. Lembra-te: nenhuma ferramenta é perfeita, mas o melhor caminho é experimentar com sentido crítico e ir adaptando o teu fluxo de trabalho conforme evoluem as tecnologias.

Se precisares de ajuda para dar os primeiros passos ou se tiveres dúvidas específicas, já sabes onde me encontrar!

Ferramenta escolhida: Lovable.dev

Lovable é ideal para quem está a começar porque:

• Permite criar uma app ou página com prompts de texto simples;

• Podes clicar em elementos e pedir alterações diretamente com linguagem natural;

• Integra-se com Supabase e GitHub (opcional, para quem quiser evoluir mais tarde).

• Passo 1: Aceder à ferramenta

  1. Vai até www.lovable.dev.

  2. Cria uma conta (podes usar o Google ou email).

  3. Clica em “New Project”.

  4. Escolhe a opção "Start with AI prompt".

  Passo 2: Escreve o prompt (já traduzido e adaptado)

  Copia e cola este prompt no campo de input da Lovable. Podes personalizar o nome da empresa, cores ou serviços:

# Objetivo

Não sou programador, mas quero criar uma landing page simples para uma empresa de consultoria.

# Papel
És o meu assistente de programação com IA.

**Nome da Empresa:** TechConsult Co.  
**Slogan:** “Soluções tecnológicas inovadoras para o teu negócio”

**Secções da página:**  
- Cabeçalho com o nome da empresa e o slogan  
- Secção “Os Nossos Serviços” com: Consultoria em TI, Soluções Cloud, Cibersegurança  
- Um botão grande ao centro com o texto “Contacta-nos”

**Estilo visual:**  
- Fundo: #0B132B (azul-marinho escuro)  
- Texto: branco (#FFFFFF)  
- Realces: verde-água (#00C6A9)  
- Botão: laranja (#FF6B35), texto branco  
- Fonte: Google Fonts (Open Sans ou Inter)  
- Layout deve ser moderno, simples e adaptado a telemóveis

**Instruções para o resultado:**  
- Quero ver uma pré-visualização da página  
- Garante que cada parte da página é fácil de editar

Passo 3: Rever e ajustar

Depois de enviares o prompt:

• A Lovable vai gerar uma página com base nas tuas instruções.

• Vais poder clicar em qualquer elemento (como o botão ou o cabeçalho) e pedir alterações do género:

  • “Muda o fundo do botão para azul”

  • “Troca o slogan para ‘Tecnologia que impulsiona o teu negócio’”

  • “Adiciona uma secção com testemunhos”

Tudo em português e com linguagem natural.

Passo 4: Guardar ou publicar

Quando estiveres satisfeito:

• Podes fazer o deploy da página diretamente pela Lovable (ideal para testes ou partilhas rápidas).

• Ou, se quiseres evoluir:

  • Liga a um repositório no GitHub.

  • Exporta o código e trabalha localmente ou em ferramentas como Replit.

Dicas extra

• Se estiveres sem ideias de design, pede à IA sugestões:
  “Mostra-me três variações com layouts diferentes”

• Se te sentires à vontade, podes mudar para modo “Code View” e editar diretamente o HTML e CSS.

E agora?

Explora, adapta, brinca com cores, textos e secções. O vibe coding é exatamente isso — transformar ideias em interfaces reais sem precisar de escrever (quase) código.

Se quiseres, posso ajudar-te com versões alternativas de prompts, integração com formulários de contacto reais ou ideias de como evoluir a landing page para um mini-site completo. É só pedires!

Chegámos ao fim — e agora é a tua vez!

Se leste até aqui, já sabes que o vibe coding não é uma fórmula mágica. É uma ferramenta poderosa, sim, mas que exige bom senso e espírito crítico para dar resultados reais.

Conheces alguém que está a pensar entrar nesta tendência?
Encaminha-lhe esta newsletter e ajuda-o a não cair em promessas fáceis.

Obrigado por estares desse lado.

Até à próxima edição! E lembra-te, quando se trata de inteligência artificial, "AI é Fácil!”💡

Um abraço,

Tiago